POROROCA
Januária
Traz
o açaí
E a
farinha de tapioca
Que vou
pra beira do rio espiar a Pororoca.
Vige
Santa, num vi tanta brabeza
Num rio
que acorda enfezado
Levando
tudo nas águas
Deixando
tudo espaiado.
Gosto
de ficar de bubuia
De zóio
grelado naquela arrumação
De ver
gente pendurada
Nas costa
do rio
Como
se água tivesse cabelo
A bicha
vem gritando de longe, penso que é pesadelo
Parecendo
assombração.
Mas gosto
de ver seu moço
A Pororoca
Vindo
feroz assim
Devorando
tudo nas margens
Do meu
belo Rio Capim.
Ela é
bunita
Sim sinhô
Mas dá
medo
Não me
atrevo
A colocar
a minha canoa
Pois
a bicha é igual
Boiuna,
E pode
me jogar de pupa a proa...
MADONA
EM SEU LABIRINTO
Às vezes rebusco os
labirintos de minhas contradições, tentando entender a antítese que às vezes faz do nosso coração um enigma
naquilo que muitos pela sua complexidade chamam arte de amar. Penso que viver
preso a essa necessidade de sentir a presença do outro de uma maneira mais
profunda, uma coisa de pele, de alma, de essência pura... Talvez seja por isso
que poetizo a vida de maneira inconsciente, ela vai brotando feito uma semente
germinando no solo do acaso.
Em cada gesto vou me tornando
um jardineiro fiel da beleza escondida entre a angustia e a alegria, entre o pecado
e o desejo de enlevar a alma aos píncaros da verdade, mas essa verdade
invisível surge em gotas frágeis caindo sobre minhas esperanças tardias... Penso
que não preciso viver em sua intensidade toda razão de ser, todo desejo reprimido.
Já me perguntaram se o poeta poderia definir a felicidade. Claro que não a
felicidade deve existir de forma fragmentada para que assim possamos viver
nessa eterna busca de um todo que tem que se formar do nada que solidifica
nossa existência.
Ao mesmo tempo em que exorcizo
os fantasmas dos meus demônios ocultos que brigam com meus anjos decaídos. Como um
demiurgo bebe na fonte da curiosidade para embriagar-me com o néctar da
sabedoria a ser extraída de uma forma dolorida como quem mergulha numa água
sombria em buscas do ouro quase sempre
inacessível. Vou tecendo minha
existência feita a Aranha construindo sua teia
Às vezes piso num solo
frágil que me faz voar como um meteoro perdido no espaço cósmico da dor, essa
mestra que molda nossas atitudes, sim sofrer é preciso para que o verdadeiro amor brote de sua sangria e nos liberte de nossas inquietações. Preciso ser Sansa gregor em sua metamorfose,
preciso mergulhar no caldeirão do meu processo, mas abomino o inseto que
insiste em aprisionar minha razão de ser.
Hermeticamente vivo com a
sensação de que serei eterno, eterno nos segundos em que construo meus sonhos
frágeis possíveis, minha vã filosofia se
forma da matéria prima da busca incessante... Então viver pra mim é uma busca,
minhas angustias, minhas alegrias meus êxtases formam minha redoma de vidro
aonde me fecho num casulo para que a dor do inesperado possa me fortalecer
quando for contaminado pelo vírus fatal da paixão... Falo não apenas da paixão
de corpos que se auto flagelam nos prazeres insanos, falo da paixão que
enlouquece que entorpece que silencia e nos leva a apoteose do amor
Nâo! Não precisarei beber cicuta muito menos
absinto, sorverei a taça dos meus delírios como quem busca a outra margem de um
rio invisível, mas essencial em minhas divagações... Só preciso traçar meu
caminho, escrever o próprio roteiro de
uma história sem fim, que me devolve ao começo do nada aonde coloquei meus pés
um dia, aonde minhas mãos teceram sonhos e ilusões, sim precisarei chorar para que meu riso flua não o riso sádico da hiena, nem o riso
sombrio de Monalisa.
E quando bater a saudade meu
amor, olharei num espelho embaçado direi
que não sou eu, que sou apenas um enigma indecifrável tentando complementar a imagem que vejo como uma farsa do destino
conspirando contra minhas incoerências, mesmo assim juro que esculpirei no tronco de
um cedro milenar teu rosto angelical, serás
minha madona incrustada a minha espera...
Nos amaremos loucamente,
serás minha namorada louca e dançaremos sob a luz do luar tocando harpas para
acordar os anjos inebriados, e tu haverá
de me devorar numa antropofagia poética porque você não mais será minha madona
de cedro, mas sim minha esfinge tocando meus cabelos, acariciando minha face e
por fim me devorarás feito uma labareda de fogo devastando paisagens.
E quando o inverno
chegar nossa juventude restará apenas em nossas pálidas lembranças, mas mesmo
assim dançaremos uma valsa vienense sobre as nuvens, caminharemos de mãos dadas
sobre as chuvas, nos amaremos loucamente e serás minha princesa num castelo
imaginário, e não mais haverá saudades porque
nossos corações estarão entrelaçados e
seremos pontes que entre idas e vindas nos farão felizes sem medo e para sempre colheremos
flores nos jardins dos nossos sentimentos...
SAPO CURÉ
Para os adultos que tenha essência de
criança
Sapo curé
E um sapo diferente dos outros
animais
Enquanto os outros pulam pra frente
Ele pula pra trás
Mora na lagoa
Mas não lava o pé
Acha errado andar pulando
Enquanto os outros sapos coaxam ele
anda assoviando
Sapo Curé
È ousado
Tem firmeza de opinião
Se pudessse voaria/
Não pisaria no chão
Ele tem uma namorada
Chamada Rabeca
Que já brigou
Com uma rã ciumenta chamada Perereca
Sapo Curé é um bom companheiro
Um amigo de fé
Que não anda lento
Mas sempre ligeiro
Se apaixonou
Por uma râ
Ranzinza
Que ele achava bonita
Por ser da cor de cinza
Sapo Curé
É vaidoso anda sempre arrumado
De fraque e Cartola
Pra inveja não dá bola
Vaidoso
Também anda sempre perfumado
Mais um dia Sapo Curé ficou triste
Ao ser convocado pra uma reunião
A orquestra dos sapos
Colocou em voto
Sua expulsão
O sapo Glutão argumentou;
-O Sapo Curé é muito metido
Só quer ser não se mistura mais com a
gente
Não coacha mais na orquestra
Não pula pra frente
Orgulhoso, arrogante.
Quer ser diferente...
Nesse instante
A Rã Ranzinza
Cor de Cinza
Falou:
Por questão de ordem
Do curé quero ser advogada
Na podemos expulsá-lo
Da Lagoa
Por ele pensar diferente
E não estou enganada em minha opção
Não é justo fazermos isso
Esse sapinho tão fofinho (virando os
olhos) é nosso irmão
E depois tudo isso não passa de
Inveja e despeito desse tal do Glutão
Que até parece que não tem coração...
Glutão dando dois saltos na frente de Rã
zinza
A interpela com vigor nas palavras.
- Alto lá, Rã zinza
Cor de Cinza
Não podemos viver com um sapo
Que não coacha
Mas assobia
Que enquanto nos pulamos pra frente
Ele pula pra trás
E nem sequer da lagoa
Ele quer saber mais
Quando Curé saiu da orquestra
Ela ficou desafinada
Com uma voz a menos
Não cantamos mais nada
Agora ele só quer assobiar
Onde já se viu
Uma orquestra assim alguém querer
escutar?
A assembléia já estava formada
Com a reunião animada
O Sapo Girino coachava
Ata ou desata?
Quem vai assinar a ata
Da expulsão???
Curé pulando pra trás
Levantou o Pé
Pra falar..
Meus amigos sapos , amigas sapas,
Pererecas e Gias
Não sou melhor que ninguém
Só não vivo de utopia
Mas também
Não posso ser limitado
Não posso viver acorrentado
Ao medo
Sem cultura nem opinião
Não guardo segredo
Que gosto de sonhar
Que posso ir muito além da lagoa
Onde vocês querem se acomodar
Posso ser feliz do meu jeito
Pois trago no peito
A beleza e inocência da poesia
Ao invés de coaxar
Posso assobiar noite e dia
Não posso ser desprezado
Por pular para trás
E não pra frente
Se não é do meu feitio
Nem da minha natureza
De uma coisa tenham certeza
Assim eu sou
E sempre serei
E depois em terra de sapo
Quero ser rei
Não ligo pra intriga de vocês
E abomino fofoca
Não quero ser gente
Quero ser sapo
Mas do meu jeito
Um sapo simpático
Um grande sujeito (Nesse instante
todos aplaudem o magnífico discurso de Curé)
(Curé se curva em reverência dizendo
muito obrigado)
Por sua bela retórica
Cure é aclamado
E ao invés de ser expulso
Todos os sapos querem por ele ser
liderado...
Curé um sapo politicamente correto,
leva a assembléia uma nova e polêmica discussão
sobre o perigo que corre a lagoa, que poderá ser destruída pela
construção de uma hidrelétrica...
Curé- Já que somos organizados quando
cantamos, precisam aos provar que somos também sapos conscientes, brigões no
bom sentido para que possamos garantir nossos direitos... Nisso Sapo Lino(que
adora dormir e comer)intervem...
Sapo Lino- Tô fora Curé... Esse papo de ideologia, de discussão isso ai não dá
em nada, reuniões(se espreguiçando) isso dá uma canseira mental.... depois eles
não estão nem ai pra nossas opiniões...vão passar o trator sobre nossa lagoa, sugiro que cada um já procure
logo uma nova lagoa porque essa aqui já era...
Curé(revoltado) pergunta. Vocês todos
concordam com o Sapo Lino?Acham que devemos viver em estado de alienação, aceitando
tudo goela abaixo, sem cultura nem opinião, sem nada dizer, sem nada fazer?
A rã ranzinza da cor de cinza foi umas das
poucas que levantou as mãos(e os pés) discordando do Sapo Lino...
-Rãzinza- Olha, eu como sou uma
jovem(por sinal muito bonita e desejada
aqui na lagoa),discordo do Sapo Lino, temos que participar, debater nossos
problemas...Essa tal Hidrelétrica até pode ser construída,mas a tes precisamos
saber detalhes, sobre como vai ficar bnossas vidas, afinal estamos aqui há muitos
anos, temos nossas famílias e de repente isso aqui vira um nada o que será de
nós???
O sapo companheiro(que até então estava
calado na reunião) se manifesta
Olha concordo que a natureza seja preservada,
mas e nos da honrada família dos batráquios estamos tendo nossos direitos? mas
sou a favor da hidrelétrica porque assim teremos escolas de qualidade, saúde,
geração de emprego e renda...
Sapo Lino(bocejando) to fora sapo companheiro,que
papo é esse de trabalhar, prefiro ficar na moita pegando tudo na manha esse
negocio de trabalhar é complicado.
Tão
vendo???(retruca o Sapo Companheiro), por isso que nossa lagoa não vai pra
frente porque tem sapos que pensam como o sapo Lino. Rãzinza complementa
- É mesmo e sugiro que a partir de hoje todos se
envolvam nessa causa
Vamos
fazer um abaixo assinado para mandar ao presidente de nossa lagoa, pedindo informações
sobre a hidrelétrica...
Curé- Rã ranzinza cor de cinza, façamos o
abaixo assinado, mas já convidei o um representante da empresa que vai
construir a hidrelétrica, eles vão mandar o Engenheiro Sapo Genuíno que vai nos
explicar tudo sobre isso, para depois tirarmos conclusão...
REUNIÃO SOBRE HIDRELÉTRICA
Domingo
pela manhã, com a presença de todos os
sapos e sapas da lagoa, além dos girinos, todos se postarem de frente para o
Sapo genuíno que de fraque e cartola(de uma elegância elogiável), portando uma pasta preta tirou um Pendrive, passando
a exibir num data show os detalhes sobre o projeto..
Sapo
genuíno à medida que a imagem ia sendo passada ia explicando... Aqui por
exemplo vamos ter uma plataforma
elevada, de tecnologia de ponta, além
do mais iremos construir aqui um local, uma
especial de corredor onde nós sapos e os peixes ficaremos protegidos e livres
de perigo...
Ranzinza
pedindo explicações
O
Sr engenheiro está nos afirmando isso, mas qual a garantia de que não iremos
ser engolidas por uma turbina?
O
engenheiro Sapo Genuíno especifica... É que um projeto desses tem que ter uma
estratégia que reduza os impactytos ambientais... E em meio a questionamentos, dúvidas,
os sapos saíram da audiência apreensivos achando que o engenheiro enrolou muito com informações
que eles não entendem direito...
Dispersa
a saparada, Ranzinza volta a filosofar sobre a importância da
participação...
Viram???
O
pobre do Curé não estava sendo compreendido, mas com essa nossa reunião ficou
claro que a união realmente faz a força, que pensar diferente nem sempre é ser
diferente...
Sapo
Lino (o sapo politicamente incorreto)
discorda- mas rã zinza, eles não estão
nem ai pra nós, lá no planalto central eles nem sabem que existe aqui uma lagoa no
meio do caminho de uma hidrelétrica... Depois
quando tem eleição o que vale é o dinheiro e não a opinião de um bando
de sapos e sapas abestados feito nós...
Sapo
Companheiro- Sei que tem razão, nossos
sapos jovens detestam política, em sala de aula não falam disso, mas até quando
vamos ter que aceitar isso? Podemos mudar o destino de nossa lagoa, livrando-a
da hidrelétrica, trazendo benefícios... Mas somente isso será possível se tivermos
consciência ecológica
Consciência
companheiro o que é isso? Votamos no nosso deputado sapo Valério e o que aconteceu?.
Foi pego com a cueca cheia de dinheiro e nada ocorreu com ele... Esse dinheiro
fez falta para a saúde, educação, social...O saparia em sua maioria(até rimou)
continua alienada
Rãzinha...
Sei, mas se ficarmos calados, omissos
estamos contribuindo para que surjam mais pessoas assim, estamos fazendo também
um projeto pedindo para todo sapo enrolado,desonesto quê tenha sujeira,e e sapo
não pode ser sujo porque mora na lagoa, não possa ser candidato a nada, nem a
presidente de lagoa...
Sapo
Lino- Sei muito bonito tudo isso, mas
vocês acham que eles vão votar Contra
eles mesmos???. O sapo Rãmalho, por
exemplo, que pinta e borda e nunca perde uma eleição é um exemplo... Ele
enganou todo o Ranário dizendo que ia projetar uma área de proteção em nossa
lagoa e sumiu com verba...
O OURO QUE VIROU ASSOMBRAÇÃO
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Nazareno Santos/ Jornalista/Poeta |
O que me trouxe a Itaituba foi o sonho de
ficar rico igual meu compadre Ziferino, que não tinha eira nem beira lá no
Maranhão e agora é homem de posses.Quem sabe eu também não dou sorte e acerto
numas graminhas?
Quando descemos do ônibus Transbrasiliana,
eu minha veia que se chama Mariana meus três filhin, Luzia, foi pru mode uma
promessa pra Santa Luzia, mas num é a do tide não, Santa Luzia mermo, a
promessa foi pra bichinha num ficar cega de nascença, pois antes de nascer deu
um pinima na mãe dela, mas graças ao meu bom Deus Luzia hoje enxerga que é uma
beleza, os outros dois José de Ribamar foi por causa de Sarney, o menorzinho e
tem cada botuca de zóio que só vendo.Mas voltando por onde comecemos, atravessei
de Miritituba numa balsa, mi lembro bem, era uma tarde de sol de rachar igual
aquela peste da seca do sertão, mas aqui tinha o rio pra nos banhar, quando pus
os zóio naquele mundão dágua, fiquei inté meio abestalhado, oiando por sobre a
balsa antes de ela chegar em Itaituba.
Cheguemos tudo sujo, cara cheia de poeira,
oia seu menino o sinhõ num quera saber o inferno que é viajar pela Transamazônica,
que alguns dizem de tanto sofrer é transamargura. Descendo da balsa parei perto
da feira pra conferir os corim de rato que trazia em minha boróca véia trazia
só o essencial, pobre só tem mesmo o essencial que é a miséria e a esperança de
um dia ficar com os burros na sombra.
Conferi nota por nota e pro meus
miolos, mal carculando o dinheiro dava apara uma semana de pensão barata, e na
base do esforço um PF melhorado. Estava matutando sobre isso, com o dinheiro na
mão e os zóio no rio, que rio bunito, o bicho parece aquele rio da bíblia, mas
fui trazido pra vida real por um tapa no pescoço dado pela muié enfezada.
Mariana-Deixa
de leseira home, tu nunca visse um rio não é? Vamo se avexe pegue os trecos dos
meninos e vamo logo procurá um lugar pra nos sossegar a caveira e encher o
bucho.A essas alturas já estava ficando de noite.Mas lembrei que tinha um endereço
no meu bolso, de um cumpadre meu lá do Piauí, que tinha vindo pra Itaituba
também com a cabeça doida feito eu, pra ficar rico nos garimpos, mas o cabra é
de sorte mermo ouvi falá que ele acertou numa grota e ta bem inté paresque que
o sujeito nasceu de cu pra lua, se eu encontrar ele, ai quem sabe ele me arruma
um trabaío ou um ajuda enquanto não começa a trabaiá...
Fumo tudo andando, com as traia véia
nas costa, nos num sabia onde ficava a cidade arta, mas fumo preguntando ali, preguntando
acolá, o cumpadri morava longe, no papel velho já todo amassado dizia que ele
morava na 26ª rua nº 2240. Por sorte encontremos a casa dele, fomos bem
recebidos, mas o cumpadre pelo jeito estava mais lascado do que eu, a casa era
simples de madeira, uns sofás veio já gasto, uma televisão preta e branca, uma
redes atada na sala, mas pelo menos tinha comida, e já fui me animando lá pelas
cozinha.
O cumpadre me mandou me abancar e
preguntou que diacho eu vinha fazer aqui, não pensei duas vezes e disse a ele
que queria ser garimpeiro. Ele me deu uma expricação.
--Cumpadre Ziferino-Oia meu cumpadre
a vida no garimpo é uma loteria, inclusive estou aqui me recuperando de mais
uma “Marlene”.Fiquei incabulado que diabos essa Marlene fez com ele.Mas entendendo
minha duvida explicô-Não é nada disso, Marlene é como nos chamamos à malária lá
no garimpo, estou aqui uma semana já tomei a quinina, devo baixar pra lá semana
que vêm, e como o patrão lá está precisando de mais garimpeiro, o senhor ainda
e brabo mas depois amansa.Fiquei feliz da vida, pelo menos tinha livrado meus corim
de ratos da pensão e dos PF que ainda tinha que arranjar pra mué e pros
mininos.O cumpadre foi muito bondoso ainda oferecendo apoio em sua casa para
minha famia.
Zifirino- O senhor deixa as crianças e
sua muié aqui com a minha em casa, pelo menos é uma boa companhia e nos vamos batalhar,
ai quando tiver dando ouro nos manda ajuda pra cá, mas não se preocupe que
enquanto o senhor não se arranja nos num morre de fome não.Aquilo foi um maná
que caiu do céu.Já estava arrumando minhas roupas, que não eram muitas mermo,só
uns trapos veio, nos ia viajar lá pro garimpo,com nome esquisito,um tar de
Cuiu-Cuiu. Partimos numa segunda feira de manhã cedo, na agencia do Pai Velho
pesaram minha boroca (que de tão escassa num dava dois kilos) eu também não
estava pesando muito, pois na viagem pra Itaituba passei baixo vinha chamando
cachorro de meu tio e mendigo de vossa excelência,. Moço mas o importante é que
Deus já tinha arranjado minha vida.
Cheguemos no garimpo no mermo dia, demorô
porque o piloto fez umas tar de perna, mas cheguemos já quase na boca da noite,
meu cumpadi me agasaiou lá na currutela, enquanto esperaria o dia amanhecer pra
ir pro baixão. Fique num quartinho de um brega, mas foi ruim a dormida seu moço
quando não era barulho de tiro,era uma música em volume alto, e já pela
madrugadinha quando pensei que ia poder tirar o sono dos justos,num consegui
pegar no sono não,por causa que as muié ficava gemendo a noite toda inté paresque que as miserave tava tudo era
duente com tanta gemedeira,uma tremenda falta de vergonha,onde já se viu uma
gritaria dessas de madrugada.No dia seguinte, terça feira pela manhã, o cumpadi
cedin veio me panhá, de lá da currutela foi três horas de varação, quando cheguemos
no barranco foi uma festa.
Como eu era tido ainda como pião brabo,
fiquei ajudando em outros serviços, mas aos poucos fui observando o trabalho
fui aprendendo, Durante um ano foi de dureza, num arranjei muita coisa não, mas
um dia encrespei de tirar uma terra cega, que o antigo patrão já tinha abandonado,
e num é que após batalhar por vários meses consegui tirar um bom ourim. Bamburrei,
e a primeira coisa que fiz foi me mandar pra corrutela soube que tinha chegado
umas muié bunita, tudo galega do zóio azul, ai pensei que dos três quilos de ouro,
se tirasse quinhentas gramas num iria fazer farta não, adispois Mariana iria me
entender, eu ali naquele mundão, sem saber o que era muié há tanto tempo.Precavido
pra não ser roubado, pois tem muito zóio de bacurau por aquelas paragens de
garimpo.Entrei no salão da boate “Danúbio Azul” nessa noite estava tendo um
show do meu conterrâneo Adelino Nascimento. O brega era bem enfeitado, as damas
da noite circulavam a espera dos freguês eu fiquei de longe espiando, escolhendo
com quem iria ficar, já tinha inté separado as quinhentas gramas num vidrim, o
restante guardei em segredo. Até que depois de ficar de bubuia por algumas
horas, enxerguei de longe uma loira, que era muita areia pro meu caminhão.Mas
aí pensei, o que importava se ela for um avião, eu tenho meu ouro posso comprá,
aquilo dava de mil na pobre de minha Mariana, mas era só uma aventura de cabra besta,
só tinha que tê cuidado praquela cabrocha num me passar gonorréia, pois a
primeira recomendação de minha veia foi essa, ter cuidado com as doenças do
mundo Criei coragem e fui até o brega, a muié galega paresque que adivinhava
que eu tinha ouro guardado no vidrim, se aproximou de mim toda sorridente,com
um olhar meio sem-vergonha me chamou e eu fui.
Olha, se você quiser posso lhe dar
muito prazer. Não perdi tempo e perguntei -E quanto custa?. Ela me respondeu depende, é só pra entrar ou
pra sair?Não entendi direito depois ela me explicou que entrar e sair eram só
dar uma rapidinha tipo de ganso, e entrar e ficar dava direito a amanhecer o dia,
ai aumentava o preço do selviço. Eu falei que era pra entrar e entrar mesmo. O
preço quase me provoca um problema no coração.Ela me cobrou 100 gramas. Na
bucha eu falei, dou cinqüenta . Ela aceitou daí eu fui, estava meio nervoso com
medo de na hora agá, faiá porque fazia tempo que estava no seco, mas ela me
acalmou dizendo que era uma profissional de primeira linha. Entramos num quarto
véio que só tinha uma cama, uma penteadeira, e embaixo da cama uma bacia e um
balde com água que era pro asseio depois do negócio consumado. Naquele tempo o
motor apagava as três da manhã, no quarto só tinha um toco de vela, ela apagou
e nos deitamos, caricias pra lá, caricias pra cá, de repente percebi algo
estranho.A loira dos meus sonhos olhou pra mim e disse
Está
surpreso querido, eu sou uma traveca!..Que diabo era traveca?,Eu matuto do mato
num era acostumado com essas coisas, o meu negocio era muié, irritado por me
sentir ultrajado em minha honra de macho que nunca negou fogo pra Mariana, essa
sim muié de verdade, apanhei uma faca que trazia dentro da bota e num contei conversa,
dei três facadas naquele bicho estranho que ficou estrebuchando no chão, com o
sangue esguichando em minha camisa branca que havia comprado para estrear
naquela noite. Foi um alarido com os gritos da muié ou sei lá que diabo era quilo,
fui pego, fiquei preso. Pra pudê sair da cadeia tinha que subornar o delegado
calça curta e seus bate pau, mas o resto do ouro eu tinha enterrado numa lata de
leite ninho grande próximo do meu
barraco. O delegado me pediu um quilo de ouro e ai esquecia tudo, não
fazia o flagrante (que ele nem sabia que diabo era aquilo, pois era analfabeto
de pai e mãe). Pensei comigo...ainda fico com um kilo e meio de ouro,dá pra mim
ir atrás da famia, afinal nun sei que doideira deu em minha cabeça,que desde
que vim pro garimpo esqueci Mariana e os filhin, não tinha mais notícias, o cumpadre
que me trouxe se enrabichou com uma dona aqui no garimpo, e eu ali naquela
situação,preso porque tinha matado um home- muié,mas também o moço ai que está acompanhando minha história pode
até dizer que sou besta,mas óia o sinhor também se enganaria,o bicho era
bunito,parecia um mulherão,o problema é que as coisas dele eram
esquisita,diferente,foi por isso que me enfezei.Quando falei pru delegado que tinha
enterrado meu ouru o delegado disse que eu tinha ficado doido, num acreditou
muito na minha história mesmo assim combinou que nos iríamos desenterrar o ouro
no dia seguinte uma sexta feira que por coincidência era Treze.Saímos da
corrutela em três (o delegado pilantra que queria ficar com a maior parte do
ouro) era eu, o delegado e um guaxeba dele, uns cabras baixinhos, cabeçudos,
que se achava uma autoridade talvez confiando no 38, que carregava sempre na
cintura..Cheguemos, no barraco depois de uma varação de três horas.Antes de
enterrar ouro havia colocado vários montes de pedras, pondo pedras diferentes
no local onde tinha deixado ela enterrada, tudo isso para facilitar quando precisasse
pegar de volta.Chegando lá a uns dez metros vi as pedras, ai falei pro delegado
que tava lá, mas senti uma coisa ruim pelo corpo, um esfriadozin, comecei a
ficar com medo, a me arrupiar. Ai falei-Seu delegado pode começar a desenterrar
que o ouro está ali.O bate pau, de zóio grande pegou um pedaço de pau e começou
a remover a areia, a lata estava enterrada a poucos metros do solo.Quando cavou
mais um pouco enxerguemos a bicha, estava ainda intacta.O delegado tirando a
tampa da lata saiu correndo alucinado, seguido pelo seu guaxeba tampinha.E eu
que já tinha tido alguns pressentimentos, também corri, quase não acertando o
caminho de volta.No lugar do ouro, dentro da lata, estava a cabeça da loira que
pedia justiça ao delegado, mas ela deu uma gargalhada tão feia, mas tão nojenta
que assustou inté os bichos da mata.
Ela
deu a gargalhada e ainda me chamou de irresponsável, o que me deu uma raiva,
mas no momento prevaleceu o medo e eu só não me borrei todo seu moço, porque
sou homem duro na queda. Quanto ao delegado e seu bate pau, nunca mais ele foi
visto pelas bandas do Cuiu-Cuiu. E
quanto ao nosso herói, que sonhava em bamburrar nos garimpos do Tapajós, vive
de varação em varação, perguntando se alguém viu sua amada Mariana e seu três filhin..Dizem
alguns antigos conhecidos de Suetônio, que ele ficou bilé mesmo, vive falando
coisa com coisa, inclusive que vai trabaiá de novo no barranco, arranjar três
kilo de ouro pra colocar dentadura nova na muié, e jurou que os dentes vai ser
tudo de ouro...E si pudé comprá pra ela um castelo pra viver eternamente
adorando sua princesa abandonada em Itaituba.
Nazareno Santos-Escritor-Jornalista